quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Expedição VI fronteiras


            Em nossa última viagem de kombi pela Argentina (dezembro de 2018), quando estávamos próximos a Posadas, paramos em um posto de combustível, enquanto aguardávamos para abastecer, eis que surge um casal, abordo de uma moto Teneré 250, e pelas características das bagagens que traziam  na moto, logo percebi que eram viajantes, me aproximei para dar nosso adesivo e conversar um pouco. Em meio à conversa, descobri que se tratava de um casal da cidade de Curitiba - PR, e que estavam retornando de Machu Pichu, perguntei sobre a moto ser resistente, conforto e outras coisas mais, e após poucos minutos de conversa, nos despedimos, cada qual seguiu sua viagem, mas fiquei com aquilo na cabeça e disse para minha esposa: no ano que vem faremos uma viagem de moto. E foi assim que surgiram os primeiros preparativos para essa nossa viagem que recebeu o nome de Expedição VI Fronteiras.

A compra da moto e os acessórios.

            Tínhamos uma moto CG 125 fan, a qual foi vendida na metade do ano de 2019 e compramos nossa Teneré/2011  250 de cor preta, a quem dei o apelido de Mula Preta, já minha esposa apelidou a valente Teneré, de Fúria da noite. Indecisão sobre o nome da moto a parte, o fato é que os acessórios foram chegando e mês a mês, fomos equipando nossa moto, rascunhando o roteiro, e fazendo cálculos.
            Acessórios comprados: Reforço de quadro (ganhei do Rafa),protetor de carenagem com suporte para pés, cavalete central, alforge lateral, grelha para bauleto,bolha com defletor (ganhei do Rafa),carregador de celular.
            Adquirimos conjuntos de viagem (calça e jaqueta) para o casal, segunda pele, entre outras coisas.
            Para camping adquirimos um saco de dormir de casal para baixas temperaturas e uma nova barraca (duas pessoas), detalhe estes  itens, não usamos em nenhum momento da viagem, pois acabamos por ficar em hotel, hostal, pousada ou casa de amigos.

Nosso Roteiro

            Definimos nossa saída para o dia 26 de dezembro, saindo de Palhoça com destino a São Miguel das Missões no Rio Grande do Sul, entrando em terras Argentinas por São Tomé, Corrientes,Monte Quemado, Tilcara,Salar de Uyuni na Bolívia, retornando para Argentina (via San Antônio de Los Cobres), e seguindo pela província de Formosa até a fronteira com o Paraguai, entrando por Falcão, Asunción e regressando para o Brasil por Foz do Iguaçu (para fazer as costumeiras comprinhas).

1º Dia Palhoça a São Miguel das Missões (768 KM)

            Despedimo-nos de nossos filhos e saímos perto das sete horas da manhã, já havia deixado a moto abastecida, e então como desafio a meta foi tocar sem parada até Lages, e assim o fizemos, a moto dando show, 09h:30 já estávamos tomando nosso café da manhã no  posto ao lado do shopping. Cafezinho tomado e seguimos em direção a cidade de Vacaria no Rio Grande do Sul, na medida em que avançávamos em direção ao Estado gaucho, o calor aumentava, Silvia logo tirou a jaqueta e a colocou sobre o bauleto da moto. Perto das 17 hrs, chegamos ao museu militar de Panambi- RS, parada para esticar as pernas, tirara as fotos de praxe e seguir até São Miguel das Missões. Após 768 km rodados, vencemos nosso primeiro dia da expedição. Chegamos a São Miguel das Missões já próximo das 20 hs, corri para comprar ingressos para o show de luzes nas Ruínas Jesuítas e fomos nos alojar na Pousada das Missões (quarto casal R$ 200,00). Após o show, fomos jantar em um restaurante bem na frente das ruínas, conhecemos um outro motociclista (Ricardo) que estava vindo do Uruguai para Porto Iguaçú com sua nova Lander, um figura que contou um pouco de sua viagem enquanto jantávamos e tomávamos uma Polar.

2º Dia São Miguel das Missões a São Borja – RS 164 KM

Acordar cedo nunca foi nossa maior virtude, assim, 10 hs da manhã ainda estávamos tomando café na pousada, bate um papo aqui, cola um adesivo ali, quando vimos já era próximo do meio dia. Quando estávamos carregando a moto, um simpático casal se aproximou para bater um papo, eram de Joinville, e estavam ali com sua Harlley ambos já passam dos sessenta anos, mas gostam de viagens com sua moto, Paulo Afonso e Clarisse, ambos aposentados da Weg sempre que podem saem pelas estradas da vida. Nos despedimos deles e saímos, mas antes de ir para estrada fomos a uma benzedeira local, muito famosa por suas rezas e benzeduras, acredito piamente que o sucesso e tranquilidade de toda nossa expedição, se deu devido as energias que ali recebemos. Na saída da cidade, ainda aproveitamos para visitar um senhor que tem alguns carros antigo, sujeito muito simpático, que na sua humildade deu toda atenção a estes curiosos, até um Decave Vegaguet  ele ligou para nos mostrar. Pelo adiantado da hora, resolvemos que só iriamos até São Borja. Chegamos próximo das 16hs, nos hospedamos bem na entrada da cidade, Pousada dos Missioneiros (110,00 o casal) o quarto bem aconchegante, com ar condicionado, tv a cabo. Demos uma boa relaxada, pois o calor era muito forte, em seguida demos umas voltas na cidade, fomos aos túmulos dos ex presidentes João Goulart e Getúlio Vargas, um sorvete na praça central onde fica o memorial com as cinzas de Jetúlio. Fomos na beira rio, e no início da noite jantamos no restaurante caso do peixe, na beira rio, degustando a boa Polar. Inusitado foi que enquanto estávamos jantando, havia toda uma movimentação do bombeiro e Samu na margem do rio. Quando fui pagar a conta, o cara do restaurante me disse que acredita que aquela parte do rio seja assombrada devido ao grande número de pessoas que se afogam ali. Eu em...melhor não duvidar.


3º Dia São Borja a Corrientes – RS 410 KM

            Saímos do hotel próximo das 9h da manhã, fizemos a imigração de uma forma bem tranquila, apenas apresentando os passaportes e o documento da moto. Na aduana tem casa de câmbio na parte de cima do prédio, onde troquei parte do dinheiro que julgamos necessário para o período que ficaríamos na Argentina, um cara apareceu e me ofereceu pesos a 0,1850, comprei mais um pouco com ele e seguimos viagem enfrentando os mais de 40 graus que fazia na região;Por vezes paramos nos postos da YPF para abastecer, lanchar e usar a internet. (Na Argentina , a maioria dos postos tem áreas de conveniência muito boas, e no geral oferecem bom atendimento).Visitamos novamente a ervateira Las Marias, mas desta vez só para tomar um té gelado e curtir um pouco do ar condicionado. O calor era nosso companheiro de viagem, e quando encontramos um rio que fica bem ao lado da Cruz del Peregrino, tratamos de nos refrescar e ensopar nossas camisetas, a Silvia aproveitou e colou um de nossos adesivos em uma pedra. Chegamos a Corrientes já estava escuro, paramos em um YPF na entrada da cidade, usamos a internet e encontramos o hotel San Martim, fica bem no centro, como chegamos na hora do Rush, só conseguimos encontrar pois quando paramos em um semáforo para perguntar, um Hermano gentilmente se ofereceu para nos guiar até lá. Seguimos seu carro e ele só deu uma buzinadinha e foi embora, não deu tempo nem para agradecer, mas nos mostra que há gente boa em todos os lugares. Nos acomodamos, demos uma volta na praça central, na igreja acontecia um casamento, demos uma espiada, fomos a farmácia e em seguida pegamos um remissi e fomos comer uma parijada no restaurante El Mirador, que fica bem na região da beira rio. Após o jantar demos uma passeio na orla, fomos ao cassino, e retornamos para o hotel para descansar.

4º Dia Corrientes a Monte Quemado – ARGENTINA - 460 KM


Após um bom café da manhã, deixamos o hotel para enfrentar os 460 km do Chaco Argentino, intermináveis retas, animais soltos na pista. Antes de deixar a cidade, minha maior preocupação era acessar a puente General Manoel Belgrano, pois em todos os relatos de motociclistas que li, diziam que não se pode trafegar pela pista principal, sob pena de ser multado pela polícia local. Usando o google maps, não tive problema algum, saímos muito tranquilamente. Assim que acessamos a ponte, o trafego estava interrompido devido a um acidente bem sobre a ponte. Esperamos uns cinco minutos e logo fomos liberados (valeu pois deu para fazer boas fotos). Nesse trecho da viagem, pegamos a única chuva, durou uns dez minutos, mas nem deu para diminuir o calor, ( tivemos de colocar nossas capas – única vez na viagem). Chegamos em Monte Quemado por volta de 17:30, ficamos no hotel Lass, fica bem na beira da estrada (pagamos 1.700 pesos argentinos = 118,00 Reais). Conhecemos aqui um casal de cariocas muito bacanas, Claudio e Márcia, viajando em uma Traif 1200, também sozinhos e comemorando 27 anos de casamento. Jantamos juntos, e iriamos nos reencontar em São Pedro de Atacama e Assuncion.

5º Dia Monte Quemado a Tilcara – Argentina – 500 KM
Quando acordamos, nossos novos amigos já haviam partido, degustamos do café da manhã e fomos para a estrada. Passamos no YPF para abastecer, e desta vez havia gasolina kk, digo isso pois a primeira vez quando viemos ao Atacama (2010/11) ficamos com o carro na fila por quase dois dias para conseguir gasolina. A Silvia colou nosso adesivo na porta da loja do posto e pela estrada lá fomos nós. Logo que deixamos a cidade, os primeiros 40 quilometros estão horríveis, muitos buracos e não da para passar de 40 km por hora. Na medida em que avançávamos o calor ia aumentando e jaquetas passavam ser amarradas no bauleto. Esta parte do caminho nós já conhecíamos porém após nove anos  mudanças ocorrem, fazendo com que a cada quilômetro você volte a se surpreender com o que vê. Animais sempre soltos na pista, pequenas cidades, na cidade de General Guemes vimos um acidente com um motoqueiro, pela placa era da cidade mesmo. A partir de Salta, já se avista bem as cordilheiras e a viagem começa a ganhar contornos mais de natureza. Logo que deixamos Salta, fomos parados pela polícia e fui submetido ao primeiro bafômetro da minha vida, mas tudo tranquilo. Chegamos a Tilcara já passado das 19 horas, por ser uma cidade pequena, e já conhecermos, fomos direto para o hotel El Jardin (pagamos 1.700 pessos, quarto bom,café da manhã bom, internet só funcionava na recepção).Conversando com a recepcionista, quando lhe dissemos que passaríamos a virada do ano ali na cidade, ela nos recomendou a fazer a reserva para a ceia de ano novo, caso contrário correríamos o risco de ficar na base da pizza ou do macarrão como aconteceu na virada de 2010 em Salta. Saímos então para jantar e dar uma volta na cidade. Jantamos em um bom restaurante, o cardápio fui uma bela parillada, e de curioso fui o fato de permitirem que alguns cachorros transitassem livremente por entre as mesas e vez ou outra recebendo um pedaço de carne. Pensa no tamanho dos “terneiros”. Retornamos para o hotel para o merecido repouso.